Apesar de hoje em dia pensarmos que a observação direta do céu não nos traz nenhum benefício imediato, em todas as primeiras culturas ela era motivo de sobrevivência. Era através da observação das estrelas – o Sol, durante o dia, e as outras estrelas, durante a noite – que conseguíamos marcar o tempo e ver quando cada 

estação do ano chegava e, assim, sabermos quando podíamos plantar nossos alimentos, colhê-los, quando o frio chegaria, a época das chuvas e etc. Isso parece um passado muito remoto das nossas vidas, mas ao olharmos com cuidado para o cotidiano das tribos indígenas, vemos que, para eles, esse aspecto da sua cultura ainda está muito presente.

 

Apesar de serem muito diferentes entre si, todas as diferentes etnias das famílias indígenas têm em comum que toda a sua organização social e, algumas vezes, física também (como a disposição das ocas, a marcação de pedras ao redor de seu território e etc), parece ter algum fundamento na observação do céu. Assim, mesmo que você seja uma pessoa perfeitamente à vontade com a nossa visão do espaço, a chamada visão ocidental, uma pessoa profunda conhecedora das constelações ocidentais e suas mitologias (aquelas que herdamos dos gregos e romanos), sua forma de enxergar o céu é extremamente diferente dos nossos índios, mesmo que ambos estejam vendo as mesmas estrelas.

 

Uma das principais diferenças é que o céu dos indígenas não é apenas a morada dos seus deuses e imortais, apesar de também exercer essa função em algumas etnias. O céu deles é, também, uma reprodução do que vêm aqui na Terra: ele está cheio dos animais e plantas que habitam os seus territórios, de histórias que ensinam às crianças das suas tribos. A Terra é um espelho do céu. A maior prova disso são as constelações que eles enxergam: antas, ema, palmeiras, cobras e seus espíritos imortais. 

 

Ao contrário das constelações que usualmente observamos, as constelações indígenas nem sempre são formadas por desenhos feitos pela união de estrelas. Muitas das constelações indígenas são formadas pelo contraste entre as partes escuras e claras da Via-Láctea (você já viu a Via Láctea? Uma faixa esbranquiçada cortando o céu?), que ajuda na forma do desenho, ou mesmo pela junção das áreas de contraste com estrelas. Dessa forma, as constelações indígenas são um pouco mais intuitivas do que as ocidentais.

 

Olhar para o céu de um povo com a cultura diferente da nossa nos diz muito sobre como é a cultura desse povo. No mínimo, conhecemos mais sobre sua vida cotidiana, sobre seus saberes, suas histórias e seus valores. Vale muito a pena sair um pouco do nosso mundo e entender formas diferentes de observarmos a natureza! Venha conhecer um pouco mais sobre o céu indígena com a nossa exposição sobre a astronomia dos índios Tupi-Guarani e Ticuna e se prepare para viajar por esse novo mundo! Boa viagem!

 

Carolina Assis, astrônoma do Museu Ciência e Vida.

Para aprender mais sobre astronomia, o Museu Ciência e Vida oferece Sessões de Planetário. Para agendamento escolar, ligue para 2671-7797. Temos sessões abertas ao público também aos sábados e domingo, às 14h e 15h